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segunda-feira, dezembro 13, 2010

Os Trabalhos de Petraeus.

Passada quase uma década após a criação da Força Internacional de Apoio à Segurança no Afeganistão (ISAF), para garantir segurança à Autoridade Afegã de Transição, sob os auspícios do Conselho de Segurança das Nações Unidas, é tempo de avaliar os resultados.

Em Agosto de 2003 a NATO assumiu a liderança da ISAF, cuja acção inicialmente estava limitada a proporcionar segurança em torno de Kabul. A ideia sublime de alargar o mandato a todo o território, implicou um aumento do número de efectivos militares e civis e da subjacente logística de apoio à missão, fazendo disparar os custos para níveis proibitivos, particularmente para os países com défice e taxas de desemprego elevados.

No terreno o combate aos fundamentalistas e insurgentes Taliban já viu melhores dias, é que estes agora dispõem de armamento sofisticado, mais apoios, com uma capacidade real de actuação, que se expandiu para vastas regiões do Paquistão, onde dispõem de bases logísticas importantes. Por outro lado o exército paquistanês está mais vocacionado a combater o seu homólogo indiano, do que propriamente enfrentar uma guerra civil dentro de fronteiras. Aliás o território afegão é hoje um cenário de eleição, no conflito sempre latente entre Nova Deli e Islamabad, - nomeadamente pela Caxemira - com os militares da NATO a servirem de alvo preferido por ambos os contendores, por intermédio dos seus aliados locais.

Seria injusto não referir, que a acção da ISAF permitiu a ocorrência de mudanças muito significativas na sociedade afegã, desde acabar com a proibição das raparigas em frequentarem o ensino, à construção de infra-estruturas básicas no ensino, na saúde, a abertura de estradas, o fornecimento de água potável, etc. A forte pressão dos EUA e seus aliados, sobre as redes da Al-Qaeda no Iraque e no Afeganistão, empurraram-nas para zonas mais periféricas, que se expandiram como mancha de óleo, para territórios cujos governos na prática ou são incapazes de exercer soberania sobre vastas áreas, ou então por conivência permitem a movimentação desses grupos. Descendo ao mundo das trevas, quer seja no Iémen, na Somália, na Etiópia ou em regiões remotas do Paquistão, não é aceitável nem possível enviar destacamentos com dezenas de milhar de efectivos em simultâneo, para permanência nesses países por uma década ou mais.

A quimera de erguer “estruturas afegãs sustentáveis”, para uma retirada do contingente da NATO a breve prazo sem sobressaltos, não cola com a realidade de um país feudal, em que os seus senhores da guerra são os verdadeiros detentores do poder no país; dispõem de exércitos privados, poder financeiro obtido através do narcotráfico e, jamais permitirão a existência de um poder central forte em Kabul, que ameace o seu estatuto. A tarefa do general David Petraeus à frente da ISAF, para estabilizar o Afeganistão equivale à de um Hércules moderno, porém mais que a ajuda do Olimpo, ser-lhe-á bem mais útil a definição de um novo conceito estratégico da Aliança.