A cortar no farelo !
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No universo autárquico, a constelação de empresas municipais tem a particularidade de na sua quase totalidade, apresentar cronicamente saldos negativos, mas por alguma razão de natureza metafísica, nenhuma destas é encerrada ou consegue sequer o equilíbrio das suas contas. Por outro lado em matéria de mordomias, seja na administração pública ou mesmo no universo empresarial do Estado, a resistência a qualquer emagrecimento é total; muitos dirigentes desses organismos acham-se no direito divino, de ter uma viatura exclusiva - entre outras benesses - à sua disposição, um caso só explicável pelo lema aristocrático do noblesse oblige! Quanto ao topo da estrutura, em particular os órgãos de soberania - veja-se o caso do Parlamento - apesar das muitas declarações piedosas dos seus titulares, na prática estes revelam o mais olímpico alheamento em matéria de auto-redução das despesas de funcionamento, certamente movidos por algum enigmático dever patriótico, que passa completamente despercebido ao comum dos mortais. A conclusão a tirar é a que, as reduções previstas nas despesas do Estado limitam-se a cortar no farelo da sua estrutura, e como tal são de eficácia muito limitada. A verdadeira "lipoaspiração" virá mais tarde, e certamente realizada por outros protagonistas.
[Texto publicado no jornal Público em 2010-05-30, e da autoria do responsável pelo blog ]
1 Comments:
Análise certeira Rui! Um abraço. JER
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