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sexta-feira, maio 06, 2011

O Memorando do Resgate

- Quem se atrever a ler o Memorando de Entendimento, relativo ao programa de ajuda financeira a Portugal, vai certamente sentir-se surpreendido pela qualidade do documento – independentemente do juízo de valor sobre a matéria contida – e surpresa absoluta, tudo circunscrito a 36 páginas na versão final!



O texto é de uma clareza meridiana, bem estruturado, muito objectivo e sem recorrer a figuras de estilo, ou a rebuscadas construções gramaticais para deleite dos seus autores e novidade absoluta entre nós: calendarizado com precisão no horizonte dos próximos 3 anos. Se em seguida, nos dermos à aterradora tarefa de analisar os programas dos dois maiores partidos – os dos restantes não têm aplicabilidade – o cenário é exactamente o oposto do acima descrito, para o memorando da comissão tripartida (B.C.E, C.E, F.M.I.). Os textos de ambos (P.S. com 70 páginas e PSD com 122) caracterizam-se por terem considerações ou justificações a mais, serem desequilibrados na temática, omissos quanto aos recursos financeiros, muito palavrosos, com uma hierarquização confusa dos temas e plenos de intenções piedosas, muitas vezes redigidas no infinitivo dos verbos, deixando antever uma concretização das medidas, remetida para o dia do juízo final.



Qualquer dos programas é de leitura intragável, para qualquer cidadão sem interesse directo na vida partidária e, francamente após várias décadas de vida democrática, já é tempo dos partidos elaborarem programas coerentes e inteligíveis. Já se percebeu pelo debate, – vide o caso da taxa social única - que estes documentos foram feitos à pressa, ou em cima do joelho e tudo isto pela simples razão, que os partidos não fazem o trabalho de casa, ou seja não dispõem de gabinetes de estudo com carácter permanente. O que acontece normalmente é que, pouco antes das eleições por iniciativa das direcções partidárias, convidam-se um grupo de notáveis ou quadros em ascensão interna, para constituírem um grupo de trabalho. Os seus membros aderem na lisonjeira esperança, de virem mais tarde a tomar lugar na estrutura do novo executivo, ou a serem indicados para cargos dirigentes do aparelho estatal.



Porém após a ida às urnas, esses grupos de trabalho esfumam-se à velocidade da luz, como se subitamente tivessem-se transformado num corpo estranho, à vida partidária. Esta forma amadora e quase doméstica, de desenhar as políticas do futuro do país já deu provas que não serve, mas a tacanhez dos aparelhos partidários continua a mantê-la e infelizmente não há nenhuma troika, que a consiga eliminar de vez.