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sexta-feira, março 02, 2007

Uma Vitória de Pirro



Uma coligação de interesses muito particulares, impediu que o mercado se pronunciasse sobre a Oferta Pública de Aquisição da Sonaecom à Portugal Telecom, quando 46,58 % dos accionistas presentes - ou seja menos de um terço do total - votaram contra a desblindagem dos estatutos, na assembleia geral da empresa. Na minoria de bloqueio existe uma entidade com particular responsabilidade neste processo, trata-se do Estado que ao possuir 500 acções com direitos especiais denominadas de golden share, bem como por ser ainda detentor da participação de 5,1 % do capital da PT através da Caixa Geral de Depósitos, foi protagonista do mais insólito que se possa imaginar; fazendo alarde da mais suprema neutralidade o representante daquelas acções decidiu abster-se mas por sua vez já o representante do Banco do Estado optou por votar contra a desbindagem ! Qualquer observador externo até poderia ter ficado com a sensação que se tratavam de Estados diferentes, na prática o poder público atingiu aqui o nível mais absoluto da incoerência e do rídiculo e pior que tudo deixou a pairar uma onda de desconfiança no mercado para situações futuras. Afinal para que serve ou a quem serve a Caixa Geral de Depósitos ? Fará sentido em 2007, num país da União Europeia que um estado membro detenha na totalidade um banco comercial em concorrêncial virtual com a banca privada?
Aqueles que exultaram com o bloqueio à livre decisão dos accionistas, parecem não ter ainda adquirido a noção que tudo mudou no panorama das telecomunicações em Portugal, como a separação anunciada das redes de cabo e de cobre, ou a consequência directa do pânico instalado na PT e na sua administração que se traduziu na promessa de distribuição colossal de dividendos aos accionistas nos próximos anos, a anunciada compra de acções próprias a curto prazo, a promessa da continuação da aposta no imprevísivel e arriscado mercado brasileiro, tudo isto vai levar à fragilização da empresa, à diminuição do investimento num sector em constante mutação tecnológica sem que apesar de tudo consiga impedir que dentro de um ano, uma nova operação se venha a repetir. O mercado e os pequenos accionistas perderam muito mais do que dinheiro, perderam a confiança e a motivação para investir no futuro próximo, a Sonae apesar dos custos da operação de lançamento da OPA, sai intacta ao contrário da PT que sofrerá a breve trecho uma divisão que lhe trará infalivelmente consequências, assim o pequeno grupo do bloqueio liderado pelo BES limitou-se a obter uma vitória de Pirro, é que ninguém duvide a próxima batalha segue dentro de momentos ...