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terça-feira, dezembro 12, 2006

Demolido o antigo edifício do Centro de Aviação Naval de Lisboa

Fairey IIID "Lusitânia" na rampa do C.A.N. do Bom Sucesso em 1922. O imóvel recentemente demolido, é o que se observa à direita do hangar.








Causou-me profunda tristeza misturada com muita indignação quando no passado dia 3 de Dezembro desloquei-me à Doca do Bom Sucesso e verifiquei que tinha sido demolido o velho edifício sede do antigo Centro de Aviação Naval de Lisboa e uma pequena placa no local informava que iria ser construída ali uma unidade hoteleira. Nada tenho a opor quanto à construção de hoteis - antes pelo contrário - porém acontece que relativamente perto existiam vários locais alternativos e não entendo a razão pela qual o imóvel foi alienado pelo Ministério da Defesa, uma vez que ali funcionou até alguns anos uma Base da Marinha bem como da permissão por parte da Administração do Porto de Lisboa e sobretudo do IPPAR qual guardião do templo de tudo quanto tem valor patrimonial em Portugal, quando apesar daquela construção não ter um valor arquitectónico, tinha em compensação um alto valor simbólico e evocativo da memória da nossa história militar em geral e da Aviação Naval em particular. Senão vejamos : o Centro de Aviação Naval instalou-se no Bom Sucesso com a chegada em 14 de Dezembro de 1917 de dois hidros FBA destinados à Marinha Portuguesa. Em 27 de Maio de 1919 ali chegaram os tripulantes norte-americanos da 1ª Travessia do Atlântico Norte comandados por Albert C. Read com o seu aparelho anfíbio Navy Curtiss NC-4, vindos de Rocaway Beach no estado de Nova York com escala na Terra Nova e nos Açores. Depois em 30 de Março de 1922 Gago Coutinho e Sacadura Cabral partiram do Centro Naval do Bom Sucesso no Fairey IIID " Lusitânia" para a iniciar a longa Travessia do Atlântico Sul rumo ao Brasil. Em 1933 ali chegou Charles Lindbergh - o herói do voo solitário Nova York / Paris - desta vez aos comandos de um hidro Lockheed 8 Sirius e muitas outras figuras da aviação mundial por ali passaram. E como os últimos são os primeiros, convirá referir que o Centro do Bom Sucesso foi durante largos anos - até 1953 - um dos polos mais importantes da nossa Aviação Naval que embora pequena em número foi grande em ambição e realizações pelo mundo inteiro. Dos tempos épicos da Av. Naval só resta ainda - de certo não por muito tempo dada a fúria destrutiva prevalecente - uma velha grua junto à doca que foi utilizada para içar os hidroaviões para os hangares então existentes. Esperava que as autoridades militares e em particular a Marinha bem como as entidades com ligação directa com a área cultural, viessem defender aquele espaço não numa perspectiva imobilista mas com propostas que poderiam até passar por dar ao imóvel em questão uma ocupação para restauração e hotelaria em regime de concessão atribuído por concurso por duas décadas por exemplo com a inerente reabilitação do edifício e que permitisse à população a fruição plena daquele local mas talvez por os primeiros estarem mais preocupados com as reformas e outras regalias objecto de recente limitação e as segundas pelo tradicional imobilismo e apatia, não se ouviu nem de uns nem de outros uma única voz. Os defensores da identidade nacional hibernaram e a sociedade civil desapareceu, enfim é o que temos; vem-me à memória um caso semelhente em Espanha na Base de Pollensa em Maiorca nas Baleares que se mantem em actividade e bem preservada ou ainda quando em 1986 assisti à amaragem em pleno rio Tejo de um dos dois hidroaviões Catalina vindos dos EUA, após efectuarem um voo transatlântico em comemoração da travessia do Comandante Reed...