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Localização: Portugal

domingo, abril 22, 2007

MAL-ESTAR

(*)
Hoje na sociedade portuguesa, torna-se quase uma tarefa hercúlea, conseguir encontrar alguém minimamente optimista a augurar a curto ou médio prazo uma melhoria substancial na qualidade de vida dos cidadãos. Vive-se uma atmosfera pesada e angustiante com a preocupação centrada quase exclusivamente na sobrevivência do dia a dia, dada a incerteza existente quanto ao futuro imediato. Mas tudo isto agrava-se perante a mediocridade de algumas das elites que nos dirigem, quer a nível político, económico e social, sobretudo quando estas se mostram completamente incapazes de mobilizar a população ou os sectores mais dinâmicos da sociedade e cometem o erro infantil de acreditar que o podem fazer recorrendo à política do chicote, como sucede nalguns sectores da governação por influência externa, quando nem os animais o permitem – que ninguém tente domesticar um cão rottweiler desse modo – quanto mais os seres humanos e em particular o homem português que não aceita tais métodos mas antes uma negociação séria e franca, como o atestam por exemplo os empresários alemães presentes em Portugal, cujas unidades de produção têm níveis de produtividade acima da média. Temos capatazes a mais e líderes a menos e isso traduz-se na mais absoluta incapacidade de gerir conflitos, encontrar soluções ou assumir riscos e responsabilidades.
Bem pode o governo tocar trombetas quanto à redução do défice, ao magro aumento das exportações ou ao raquítico crescimento económico, que para a maioria dos portugueses tal realidade macroeconómica não passa de tecnocratês, ou seja está-lhe tão distante como um urso polar se encontra do equador. O que as pessoas se confrontam diariamente para além dos baixos rendimentos, do endividamento e do desemprego é com uma esmagadora e cega carga fiscal sem as inerentes contrapartidas, pois não se pode ser ao mesmo tempo social-democrata nórdico a cobrar impostos e ultra-liberal norte-americano em matéria de prestações sociais, como sentem na prática os contribuintes obrigados a recorrer muitas vezes aos serviços de saúde e de ensino privados, por manifesta falta de qualidade ou de capacidade de oferta dos públicos, e obviamente a terem de suportar os custos de ambos !
No horizonte deparamo-nos com um poder político fragilizado mesmo dispondo de maioria absoluta mas pior que isso é constatar no leque das oposições um deserto de alternativas, quando o seu maior partido insiste pela enésima vez em receitas com mais de 20 anos, bem como possui uma liderança absolutamente irrelevante e o CDS por sua vez proclama uma nova era, recorrendo a um antigo dirigente que se notabilizou no passado pelas chamadas políticas de feira. À esquerda o PCP definha arrastando uma carga ideológica da era da revolução industrial, embora ainda com influência no que resta do universo sindical e finalmente sobra uma frente radical especializada na agitação mas sem qualquer consistência para a governação. Perante isto o presidente da república tem poucos ou nenhuns graus de liberdade de acção, apesar do então designado pântano de António Guterres comparado com a situação actual, mais se assemelhar agora a um viçoso milheiral. O navio lusitano encontra-se sob uma neblina impenetrável e paralisante, e cabe à sociedade civil encontrar um rumo até porto seguro, antes que ocorra naufrágio.
(*) Paul Cezanne [1839-1906] Óleo sobre Tela