Atmosferas

Bugatti 23 Brescia ( 40 H.P.), 1924

A Reconstrução do Estado.

Com o país ligado ao ventilador - vulgo B.C.E. - e as instituições públicas à beira do colapso eminente, já não há reformas que valham ao Estado português; urge antes reconstruí-lo a partir de uma base zero e reconfigurar gradualmente o que dele existe, do presente modelo absolutamente caótico para uma estrutura mais ligeira e sobretudo eficiente.

Depois de três décadas pautadas por um despesismo público compulsivo, - apesar de intercaladas até por duas intervenções do F.M.I. - que serviu de suporte demagógico a muitas carreiras políticas, eis-nos chegados à dramática situação actual , com os orgãos de soberania em paralisia total, quanto á capacidade de tomar decisões fundamentais para o nosso país.

Os nossos credores vão forçar-nos a tomar medidas, que inúmeros políticos medíocres nacionais, sempre condicionados pelo tacticismo eleitoral, não ousaram sequer em avaliar. A gravidade das patologias existentes nas finanças públicas impõe o recurso ao bisturi e mais que tudo à actuação de uma outra equipa médica, que seja responsável, credível e muito hábil.
[Texto do autor deste blog publicado no D.N. de 25.04.2011 ]

Gorjetas !

No final do percurso de táxi entre o aeroporto da Portela e a Avenida da Liberdade em Lisboa, a delegação ao mais alto nível do Fundo Monetário Internacional efectuou o respectivo pagamento e deu como gorjeta € 0.65.

Num país em que o hábito de dar 1 euro ao "arrumador", para parquear uma viatura se tornou quase uma obrigação, ou num valor genericamente aceite, o episódio devia servir para reflectir sobre os nossos hábitos, que contudo não são tão ancestrais como parecem. É que o "novo-riquismo" decorrente da chegada de dinheiro fácil e na altura barato, só teve real expressão após a nossa entrada na C.E.E. em 1 de Janeiro de 1986.

"Se soubesse como Portugal ia ficar não tinha realizado o 25 A!"

Numa entrevista à agência Lusa, Otelo Saraiva de Carvalho um dos militares mais destacados na concepção e desencadear do 25 de Abril de 1974 declarou:

"Se soubesse como Portugal is ficar não tinha realizado o Movimento do 25 de Abril !" Causou também perplexidade a declaração que "bastam 800 militares para derrubar um governo". E ainda que " a coisa começará a apertar no dia em que os militares perderem os seus direitos".

Estas declarações para qualquer leitor assumem um tom de chantagem intolerável da corporação militar em relação ao país; o incómodo da classe política foi absoluto, mesmo quando só responsabilizam o seu único autor.

Fundo Europeu de Resgate (E.F.S.F.)* e Portugal .

A farsa contínua a que temos assistido ao longo de décadas a fio não podia durar eternamente; a fúria despesista levada a cabo pelos partidos do arco do poder, em resultado da mais absoluta irresponsabilidade na obtenção do voto fácil, levou a um sobreendividamento imparável. Os mercados internacionais responderam de imediato, baixando os níveis de fiabilidade da dívida portuguesa, para valores próximos do lixo.

Agora depois de uma longa postura de negação mais que patética, lá veio o pedido de intervenção do Fundo Europeu de Resgate, já com o país numa situação de quase pré-rotura financeira.

Decididamente umas centenas de políticos dos parelhos partidários, não têm o direito de colocar mais de 10 milhões de cidadãos, à beira da miséria. Apesar muitos daqueles terem sido eleitos em votações democráticas, tal facto não lhes confere a possibilidade de cometerem crimes económicos e permanecerem na mais absoluta impunidade.

Em Lisboa já estão várias delegações de peritos financeiros - B.C.E, Comissão Europeia e F.M.I. -que irão analisar a realidade económica e financeira em detalhe e propõr medidas de actuação.

A chefiar a delegação do citado F.M.I. estará presente o dinamarquês Poul Thomsen, com vasta experiência em negociar com governos negligentes e despesistas. Nascido num país com um sólido sistema de educação, que responsabiliza os jovens desde muito cedo e onde a matéria económica e financeira é tratada de forma séria e responsável. A sua reacção relativamente à anarquia reinante no aparelho de Estado e na vida civil, irá fazer-se sentir a muito breve trecho.

Quando as várias delegações presentes descobrirem, que nalgumas empresas públicas nacionais (falidas), os seus administradores auferem salários maiores, que o da própria senhora Merkel ou do presidente Obama, a delegação internacional por certo não deixará de dar resposta a tal equívoco.

* E.F.S.F. - European Financial Stability Facility .