Os Telejornais Exóticos ou o Pátio Alfacinha !
Para alguém que esteja fora do pequeno universo lusitano e presencie os nossos media televisivos, ficará por certo perplexo perante uma realidade que é completamente excêntrica a tudo quanto é o panorama europeu nesta matéria. Os telejornais são em particular o exemplo mais acabado de tal postura e constituem uma verdadeira maratona pseudo-informativa com uma duração média superior a uma hora - verdadeiro prime time para a política caseira - e revelam-se na prática um verdadeiro Bazar Magrebino em que se pode encontrar um pouco de tudo, desde o documentário, à interminável entrevista, passando pela reportagem em directo sem qualquer relevância para a notícia, até à inclusão quase obsessiva da imagem; se o tema aflora ainda que ao de leve o transporte ferroviário por exemplo, lá terão que aparecer uns largos segundos de vídeo com uma qualquer composição numa incógnita estação de caminho de ferro, como se o telespectador vivesse na Papua Nova Guiné e aquelas imagens fossem o alfa e o ómega para a percepção da notícia em causa. Qualquer aluno do 1.º ano em qualquer capital europeia na mais modesta escola de jornalismo não cometeria tal erro! A RTP pelo contrário ainda se vangloria pela medíocre qualidade informativa que produz.
Mas o mais caricato é que cada uma das direcções de informação dos vários canais televisivos nacionais ainda não percebeu que dia a dia está em competição directa a nível quase global com estruturas de informação mundial como a BBC, CNN , Sky News e outras cuja penetração no nosso mercado cresce exponencialmente sem que o idioma represente ainda a barreira conveniente e intransponível do passado e é no mínimo estranho que os embora desacreditados shares de audiência não reflictam nem que superficialmente essa realidade.
Por outro lado na televisão pública a cultura portuguesa passou à condição de clandestinidade, alguns afloramentos ainda conseguem envergonhadamente aparecer á luz do dia mas o grosso da programação arrasta-se por concursos onde impera o tédio ou a sensaboria e os reality shows em que a banalidade é promovida a espectáculo, através do voyeurismo mais primário.
Os arquivos da RTP são utilizados de forma absolutamente patética é que em vez de recuperar imagens para servir de referência à nossa história contemporânea, priviligiam a caricatura ou a mais boçal das trivialidades como retransmitir 90 minutos de partidas de futebol na bizarra RTP Memória que sendo suportada por fundos públicos, se dá ao supremo desaforo de não ser emitida em sinal aberto .
Para quando uma televisão pública com uma direcção que seja capaz de gerir minimamente e construir uma situação económica e financeira equilibrada sem ter de recorrer a empréstimos à banca para encobrir monumentais passivos e ao mesmo tempo produzir uma informação e programação de acordo com padrões europeus de qualidade ?