A TROUXE-MOUXE

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Localização: Portugal

quarta-feira, julho 19, 2006

Os Telejornais Exóticos ou o Pátio Alfacinha !


Para alguém que esteja fora do pequeno universo lusitano e presencie os nossos media televisivos, ficará por certo perplexo perante uma realidade que é completamente excêntrica a tudo quanto é o panorama europeu nesta matéria. Os telejornais são em particular o exemplo mais acabado de tal postura e constituem uma verdadeira maratona pseudo-informativa com uma duração média superior a uma hora - verdadeiro prime time para a política caseira - e revelam-se na prática um verdadeiro Bazar Magrebino em que se pode encontrar um pouco de tudo, desde o documentário, à interminável entrevista, passando pela reportagem em directo sem qualquer relevância para a notícia, até à inclusão quase obsessiva da imagem; se o tema aflora ainda que ao de leve o transporte ferroviário por exemplo, lá terão que aparecer uns largos segundos de vídeo com uma qualquer composição numa incógnita estação de caminho de ferro, como se o telespectador vivesse na Papua Nova Guiné e aquelas imagens fossem o alfa e o ómega para a percepção da notícia em causa. Qualquer aluno do 1.º ano em qualquer capital europeia na mais modesta escola de jornalismo não cometeria tal erro! A RTP pelo contrário ainda se vangloria pela medíocre qualidade informativa que produz.

Mas o mais caricato é que cada uma das direcções de informação dos vários canais televisivos nacionais ainda não percebeu que dia a dia está em competição directa a nível quase global com estruturas de informação mundial como a BBC, CNN , Sky News e outras cuja penetração no nosso mercado cresce exponencialmente sem que o idioma represente ainda a barreira conveniente e intransponível do passado e é no mínimo estranho que os embora desacreditados shares de audiência não reflictam nem que superficialmente essa realidade.

Por outro lado na televisão pública a cultura portuguesa passou à condição de clandestinidade, alguns afloramentos ainda conseguem envergonhadamente aparecer á luz do dia mas o grosso da programação arrasta-se por concursos onde impera o tédio ou a sensaboria e os reality shows em que a banalidade é promovida a espectáculo, através do voyeurismo mais primário.
Os arquivos da RTP são utilizados de forma absolutamente patética é que em vez de recuperar imagens para servir de referência à nossa história contemporânea, priviligiam a caricatura ou a mais boçal das trivialidades como retransmitir 90 minutos de partidas de futebol na bizarra RTP Memória que sendo suportada por fundos públicos, se dá ao supremo desaforo de não ser emitida em sinal aberto .
Para quando uma televisão pública com uma direcção que seja capaz de gerir minimamente e construir uma situação económica e financeira equilibrada sem ter de recorrer a empréstimos à banca para encobrir monumentais passivos e ao mesmo tempo produzir uma informação e programação de acordo com padrões europeus de qualidade ?

quarta-feira, julho 12, 2006

GM Abandona Azambuja


A decisão do construtor automóvel americano em abandonar a unidade de montagem da Azambuja era já um facto de há muito esperado e só a cegueira indígena quanto a conceitos básicos de viabilidade económica pode explicar a surpresa pelo acontecido. O facto reside na diminuição da procura a nível mundial pela marca materializados num prejuízo em 2005 de 8,2 mil milhõe de euros e é obvio que os accionistas do grupo não deixaram de exigir que fosse encontrada rapidamente uma estratégia que repusesse os lucros da multinacional ou alguém no seu estado nornal imaginará que os contribuintes norte-americanos subsidiam os défices das empresas ? Sendo o Opel Combo um sub-produto do Opel Corsa que é produzido em Saragoça, resulta claro que os custos de logística envolvidos no transporte de componentes fragilizavam de sobremaneira a viabilidade da fábrica da Azambuja que procedia a pouco que mais que a mera montagem final do veículo. Mas neste processo o Governo em geral e o ministro da Economia estiveram mal; os infrutíferos e descordenados contactos com os vários níveis da GM , seguidos pela declaração de encerramento que o ministro desconhecia e para culminar o seu desnorte, a afirmação eloquente que "este vai ser um caso exemplar" e que o Estado " irá exigir uma indeminização à empresa" ; porém quando lhe perguntaram acerca do número de casos idênticos em que o Estado tinha sido ressarcido, a resposta foi um indicifrável silêncio. Certamente que alguns escritórios de advogados rejubilarão com a notícia mas exceptuando algumas centenas de inúteis páginas A4 com argumentos falaciosos nada de novo irá acontecer, até ao dia em que a GM acene a alguns fornecedores nacionais de componentes com alguns contratos para logo qualquer acção interposta ser retirada dos tribunais, onde tal processo teoricamente se arrastaria até às calendas gregas. Qualquer pessoa minimamente informada após simples pesquisa, descobrirá que a facturação anual da multinacional norte-americana é superior ao PIB português e a razão de ser da segurança e descontracção do vice-presidente do grupo para a europa Eric Stevens , numa conferência de imprensa não se deve propriamente só a uma característica pessoal mas antes a quem representa um império industrial e financeiro face a um estado pequeno, pobre e periférico. Assim teria sido preferível que o ministro em vez da declaração que pronunciou para consumo interno e que só demonstra fraqueza e irrelevância, tivesse antes optado por um acordo com a GM por forma a que a nossa indústria de componentes fornecesse a unidade espanhola através de contratos com sólidas garantias.

sábado, julho 08, 2006

A (In)Utilidade do Nosso Estado .


Em qualquer país situado no hemisfério norte e muito particularmente na Europa, existe uma relação directa entre os impostos cobrados e um conjunto de contrapartidas que o Estado concede aos seus cidadãos. As concepções mais liberais implicam menor carga fiscal mas também maior responsabilidade de cada indivíduo em assegurar as melhores escolhas na obtenção de serviços sociais que necessitará por toda a vida.
Porém em Portugal existe uma verdadeira originalidade que consiste no facto de ultimamente o aumento da carga tributária se traduzir ao invés de qualquer racionalidade, numa muito significativa diminuição dos apoios sociais prestados pelos sistemas públicos.

Dentre estes a educação assume especial destaque por se poder considerar um monumental desastre, com edifícios escolares sem qualquer conforto para os utentes – alguns novos sem isolamento térmico ou acústico e muitos outros que reprovariam em qualquer vistoria – onde a palavra disciplina desapareceu do universo escolar e permite a qualquer aluno boicotar sistematicamente o trabalho académico ou mesmo perpetrar agressões sem que a ele ou aos pais advenha qualquer sanção, o que é um caso único na União Europeia, até conselhos directivos sem capacidade ou conhecimentos de gestão e tudo isto rematado por uma tutela autista e impotente que desvaloriza o essencial e insiste em se concentrar em aspectos acessórios e populares. O produto final é uma despesa avultadíssima ao nível do primeiro mundo – 6106 milhões de euros em 2006 - e incompreensíveis níveis de iliteracia só comparáveis ao do terceiro.

A saúde encontra-se há décadas na mais absoluta auto-gestão, a avaliação do pessoal – que detém o privilégio único e inexplicável de poder acumular com funções privadas livremente - ou das instituições hospitalares, neste caso através de uma entidade independente recorrendo a indicadores internacionais e a constituição daí decorrente de um ranking , parece configurar um absoluto crime de lesa-majestade, de modo que a corporação em causa opõe-se tenazmente a qualquer espécie de escrutínio público. O desfecho é conhecido, milhares de pessoas aguardam longamente por uma cirurgia, doentes em sofrimento esperam madrugada dentro ao relento para conseguir uma vaga numa consulta num centro de saúde no interior do país, equipamentos subutilizados muitas vezes só explicáveis pela rede de vasos comunicantes entre o público e o privado mas sempre em proveito deste e detrimento daquele e a formação a conta-gotas de profissionais de saúde, em contraste com o facto de o Estado português optar por formar nas suas universidades maioritariamente advogados que o país não necessita e tem em excesso. Reduzir o número de vagas nas faculdades de direito e com os recursos poupados investir no apoio à formação complementar de médicos e enfermeiros no estrangeiro uma vez esgotada a capacidade nacional, seria um medida do mais elementar bom senso.

No horizonte próximo da segurança social paira a ameaça da falência, fruto da anarquia e do receio em tomar medidas eficazes no passado e da fraude reinante na atribuição de pensões de reforma elevadíssimas ou antes do tempo sem que para muitas delas tivesse existido uma proporcional correspondência nos descontos para o efeito.

Na justiça nem vale a pena falar, em muitos tribunais cíveis aguarda-se pelo dia do juízo final para a conclusão de processos.


Assim facilmente se conclui que ao cidadão português só lhe resta para sua sobrevivência a padrões mínimos, optar por uma escola privada, recorrer a uma seguradora para obter um serviço de saúde e subscrever num banco um produto de poupança-reforma ou então não o podendo fazer, emigrar de vez. Cabe então perguntar e os impostos para que servem? Bom para pagar a encenação grotesca de um Estado fraco a quem um conjunto de corporações chantageia em busca de mais mordomias e vários lobbies todos os dias exigem mais dinheiro para apoiar pseudo-investimentos de sustentabilidade duvidosa, com argumentos patéticos em que o risco é suportado pelos contribuintes e os lucros são largamente protegidos de qualquer incidência fiscal por largos anos. Sectores sem qualquer relevância nas exportações (à excepção do vinho desde a presença fenícia na Península) ou na criação de riqueza (com peso insignificante no PIB) como as praticamente inexistentes agricultura e pescas, arrogam-se no direito divino de receberem perpetuamente subsídios pagos pelos contribuintes, isto apesar de já receberem avultadas compensações como combustíveis a preços reduzidos e fundos de toda a ordem, sem que a produtividade nesses sectores tenha tido qualquer salto qualitativo ou revelado capacidade de gerar novas indústrias alimentares a jusante, aqui o imobilismo parece compensar largamente.

Qual o Estado que queremos? O modelo vigente decididamente não serve e pior que tudo é a constatação da inexistência de uma opção alternativa credível a curto ou médio prazo, sobretudo quando no Parlamento um grupo de deputados apresentou como projecto de resolução nesta altura imagine-se, a instituição do dia nacional do cão!

quinta-feira, julho 06, 2006

Património...


Locomotiva Borsig VV 13 de 1908.
Local: Macinhata do Vouga.

Nota: A principal razão para o sistemático abandono a que o património tecnológico tem sido votado, reside na endémica falta de um átomo de cultura científica de largos sectores da sociedade portuguesa, incluindo parte substancial da sua élite.

Photografias



Esquadrilha Francesa Sop 263, ano de 1918. Ao centro na primeira fila sentado o comandante Capitão Bust ladeado por dois aviadores portugueses; à sua direita o Ten. de Infantaria Pereira Gomes e à esquerda o Alf. de Cavalaria Ulisses Alves. Vários historiadores que abordam a participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial teimam inexplicavelmente em ignorar a presença de aviadores lusitanos no conflito!

Editorial


A obra e o pensamento de Aquilino Ribeiro, servem de guia para este espaço de reflexão sobre Portugal, sem bajulamentos partidários ou seguidismos de linguagem venham eles de Lisboa ou do Porto, nem subordinações ao gosto prevalecente e sempre tão efémero de alguns domesticadores do pensamento mas antes lançando um olhar para as raízes profundas do Interior - essa região bem afastada de um Litoral anárquico e descaracterizado que nunca foi capaz de minorar a nossa ultraperiferia - na procura de um lampejo de racionalidade acrescida, para abordar as mais candentes contrariedades do nosso tempo e da nossa terra.