MAL-ESTAR
Bem pode o governo tocar trombetas quanto à redução do défice, ao magro aumento das exportações ou ao raquítico crescimento económico, que para a maioria dos portugueses tal realidade macroeconómica não passa de tecnocratês, ou seja está-lhe tão distante como um urso polar se encontra do equador. O que as pessoas se confrontam diariamente para além dos baixos rendimentos, do endividamento e do desemprego é com uma esmagadora e cega carga fiscal sem as inerentes contrapartidas, pois não se pode ser ao mesmo tempo social-democrata nórdico a cobrar impostos e ultra-liberal norte-americano em matéria de prestações sociais, como sentem na prática os contribuintes obrigados a recorrer muitas vezes aos serviços de saúde e de ensino privados, por manifesta falta de qualidade ou de capacidade de oferta dos públicos, e obviamente a terem de suportar os custos de ambos !
No horizonte deparamo-nos com um poder político fragilizado mesmo dispondo de maioria absoluta mas pior que isso é constatar no leque das oposições um deserto de alternativas, quando o seu maior partido insiste pela enésima vez em receitas com mais de 20 anos, bem como possui uma liderança absolutamente irrelevante e o CDS por sua vez proclama uma nova era, recorrendo a um antigo dirigente que se notabilizou no passado pelas chamadas políticas de feira. À esquerda o PCP definha arrastando uma carga ideológica da era da revolução industrial, embora ainda com influência no que resta do universo sindical e finalmente sobra uma frente radical especializada na agitação mas sem qualquer consistência para a governação. Perante isto o presidente da república tem poucos ou nenhuns graus de liberdade de acção, apesar do então designado pântano de António Guterres comparado com a situação actual, mais se assemelhar agora a um viçoso milheiral. O navio lusitano encontra-se sob uma neblina impenetrável e paralisante, e cabe à sociedade civil encontrar um rumo até porto seguro, antes que ocorra naufrágio.