É ponto perfeitamente assente que o destino de Portugal permanecerá ligado ao da União Europeia e daí a importância que à partida as eleições para o Parlamento Europeu deveriam significar. De outra forma, o lugar que a comunidade internacional nos reservaria, estaria bem mais próximo do Magreb do que propriamente do continente europeu.
Porém para a vox populi , o cargo de eurodeputado é sinónimo de uma vida no El Dourado de Bruxelas, afastada do tumultuoso, pobre e muito caustico ambiente político doméstico, ou seja equivale a passar do Inferno de Dante, ao Jardim das Delícias Terrenas de H. Bosch.
Contudo os aparelhos partidários ao invés de pelas suas práticas políticas contrariarem tal percepção, ainda mais a reforçam e para ilustrar esta evidência, bastará olhar com alguma atenção para as listas de candidatos do PSD e do CDS. Em ambos os casos as listas são encabeçadas por deputados que se notabilizaram por serem fervorosos apoiantes das respectivas direcções partidárias. Naquele último partido o anterior líder e ainda eurodeputado é excluído das listas, pela simples razão de não apoiar a direcção actual, o que constitui um pecado mortal, merecedor de pesada sanção. Ou seja existe aqui uma lógica de prémio versus castigo, na escolha do pessoal político para ocupar a nossa representação, em que a capacidade individual ou o perfil, são remetidos para um terceiro plano nos critérios de escolha, é que agora não basta apoiar o chefe, é obrigatório ser seu devoto.
A tudo isto acresce a total opacidade do trabalho realizado pelos nossos representantes perante a opinião pública, no plenário ou nas comissões, à excepção de alguém que esteve presente na investigação ao caso Echelon e aos voos secretos para Guantánamo atravessando território europeu, que devido à forma desastrada como foram conduzidos os trabalhos, nem sequer com o auxílio de um microscópio electrónico se consegue observar qualquer resultado efectivo do “esforço envolvido” . Por outro lado o aclamado Tratado de Lisboa, aguarda certamente pelo Dia do Juízo Final para que seja objecto de ratificação pela República Checa e pela República da Irlanda, perante o encolher de ombros generalizado da Comissão Europeia, Parlamento e Conselho onde invariavelmente se coordena muito, mas quase nada se decide. Por sua vez o B.C.E. responde à crise mundial , à velocidade de uma tartaruga, comparativamente com o Federal Reserve dos E.U.A.
Como se tudo isto já não fosse desmobilizador, veio agora a saber-se que os nossos eurodeputados vão passar a auferir um salário que é superior ao dobro do actual – mais alto que o do Presidente da República - , tendo como argumento “demolidor” a necessidade de harmonizar os salários de todos os deputados europeus. Imagine-se o que seria se tal critério fosse generalizado ao país inteiro, sem passar previamente pelo crivo apertado dos níveis de produtividade.
Perante o quadro descrito, a probabilidade da abstenção das eleições europeias vir a atingir valores históricos é muito alta e já não colhe a estafada explicação que acaba por acusar o castigado cidadão português de falta de cultura cívica, ou alheamento, quando este no dia a dia tem de se confrontar com uma luta sem tréguas pela subsistência.
Façamos votos que o debate seja esclarecedor e mobilize de vez os cidadãos, pois caso contrário isso irá afectar a representatividade dos eleitos e acentuará a imagem do país como mero receptor de fundos, cujo ocaso está para muito breve ou seja em 2013.